quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Seminário “A Geração Digital e a Web 2.0”


Com o objectivo de:
· Reconhecer as características idiossincráticas da Geração Digital
· Reflectir acerca de perspectivas pedagógicas diferenciadas
· Conhecer as tendências evolutivas da Tecnologia Educativa
· Analisar as potencialidades da WEB 2.0

...será dinamizado o Seminário “A Geração Digital e a Web 2.0” no Auditório da Escola Secundária da Mealhada, no dia 02 de Março, das 15h às 18h. O acesso é gratuito, mas é necessário fazer a sua inscrição, já que os lugares são limitados.


 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os efeitos do 'e-book', por João Tordo


O escritor João Tordo, escreveu uma crónica sobre livros digitais no Diário de Notícias de Sábado intitulada “Os efeitos do ‘e-book’”.

“Todas as inovações tecnológicas acarretam uma significativa dose de entusiasmo e outra dose, ainda mais significativa, de medo. As máquinas tomavam conta do mundo ou manipulavam o homem em mais filmes do que os que consigo nomear – assim de cabeça: Terminator, Electric Dreams, 2001 Odisseia no Espaço, Matrix -; na nossa vida quotidiana, quantas vezes nos referimos às máquinas como invasoras do espaço que deveria pertencer ao homem – nas caixas automáticas do supermercado, nos bilhetes electrónicos de viagem e, recentemente, até nas portagens da auto-estrada? O medo da tecnologia não é mais do que o medo da substituição: de sermos considerados obsoletos, de deixarmos de pertencer a isto, de perdermos o nosso lugar natural na ordem das espécies. O mesmo tem acontecido com o livro electrónico, mais conhecido por e-book
Algumas vozes levantam-se em sua defesa, outras anunciam a iminente catástrofe do fim do livro como sempre o conhecemos, desde que era escrito na pedra ou rabiscado em papiro. Estes últimos defendem o livro tradicional por o con- siderarem um ser vivo, uma extensão das suas próprias mãos, coisa táctil, rugosa, de aroma tão antigo como a antiguidade; os primeiros, por outro lado, advogam a facilidade de ter centenas de obras no mesmo dispositivo e invocam uma outra catástrofe, a ecológica, que se perpetuará enquanto forem abatidas árvores para nos fornecer a matéria-prima.
O problema, insisto, é de substituição, pelo menos no que diz respeito aos leitores; quanto aos escritores, essa substituição começou no momento em que abandonámos a pedra, o papiro, a caligrafia, a saudosa máquina de escrever e, agora, utilizamos o computador, no qual nada é real – nem letras nem páginas -, escrevendo virtualmente as palavras que, mais tarde, surgem impressas por artes que, regra geral, desconhecemos.
E é para os escritores que o e-book se transforma numa potencial ameaça, mas apenas no sentido em que, dependendo da velocidade da sua propagação, nos vemos obrigados a repensar o que era um contrato mais ou menos estabelecido entre autor e editoras. Sem custos de produção e distribuição do livro por parte de quem os publica, as percentagens (royalties) que o autor recebe não podem permanecer idênticas e, um pouco por todo o mundo, estão a ser renegociadas; por outro lado, também o preço dos livros desce consideravelmente quando tudo o que o leitor recebe é um ficheiro legível no seu Kindle ou Google Reader.
Quem fica a ganhar com isto é, teoricamente, ninguém, presumindo que o número de leitores é o mesmo e, portanto, que o número de livros vendidos, em formato digital, permanece idêntico ao número de livros (reais) vendidos em livraria. Mas talvez a coisa não seja assim tão líquida: quem sabe se, neste processo de substituição, o livro de determinado autor português seja finalmente de fácil acesso aos nossos emigrantes noutros países – e são cerca de 5 milhões espalhados pelo mundo – e, desta maneira, o negócio acabe por ser rentável para as editoras e alargue consideravelmente o público de determinado autor? É um processo de substituição, como já disse; mas isso não é necessariamente má coisa, e haverá sempre aqueles que, como eu, não dispensam aquela espécie de ser vivo, uma extensão das suas próprias mãos, coisa táctil, rugosa, de aroma tão antigo como a antiguidade.”